PROPOSTA 2
Desabafo
RIO DE JANEIRO - Transcrevo, resumidamente, um e-mail recebido. Respeitei a linguagem, as idéias e a indignação da moça. Acredito que o seu desabafo revela o que muitos jovens estão sentindo sobre a situação nacional. Aí vai:
"Meu nome é Débora, tenho 16 anos, estou no terceiro colegial e, ultimamente, muito revoltada com o Brasil. Não há como aceitar um país que é jovem, sim, mas que deveria ter adquirido o mínimo de maturidade. O povo brasileiro é que não deve ser bom, não deve merecer um governo bom.
"Me revolta ver tanta roubalheira, tanta sujeira. Nem o ensino superior, que era o que se salvava da educação que o governo proporciona, está dando certo.
"O Brasil é um dos países que mais pagam impostos no mundo e tem a pior distribuição de renda, só perdendo para Serra Leoa. De qualquer forma, o ensino superior ainda tinha qualidade, o vestibular mais difícil do mundo. Não é justo os maiores filósofos, filólogos e sociólogos do Brasil ganharem a média de 1.500,00 por mês. Os professores não precisam pedir para trabalhar na USP, ganhariam muito mais em qualquer universidade particular por aí.
"Eles só querem o bem do Brasil, já que sem professor o país não anda. Nem sei se você vai ler este e-mail. De qualquer forma, serviu de desabafo para mim, que estou muito revoltada. Penso em estudar muito para ver se posso estudar lá fora. Infelizmente, é esta a colocação" (landan@uol. com.br).
Umas pelas outras, as mensagens que costumo receber, e que outros jornalistas igualmente recebem, são mais ou menos nesse tom. Devido ao tamanho, cortei um trecho em que a moça elogia FHC e mete o pau no PT, no MST e no Lula. Tudo bem, opinião é opinião.
Débora, de 16 anos, terceiro ano colegial, não é uma botocuda, uma fracassomaníaca. É uma jovem dizendo o que a maioria pensa.
(CARLOS HEITOR CONY, Jornal Folha de S. Paulo, 9/10/2000, p.A-2)
PROPOSTA PARA A CARTA ARGUMENTATIVA.
DEPOIS DE UMA LEITURA ATENTA DO TEXTO ACIMA, ESCREVA UMA CARTA ARGUMENTATIVA PARA A AUTORA DESSE E- MAIL, APRESENTANDO SEUS ARGUMENTOS A FAVOR OU CONTRA O DESABAFO DELA. ASSINE A CARTA COM UM NOME DIFERENTE DO SEU.
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PROPOSTA 3
Texto 01- LÍNGUA PRESA
É ASSAZ reprochável, para dizer o mínimo, a horda de neologismos que tomou de assalto a língua portuguesa. Não se pode mais nem mesmo ir a um shopping center sem encontrar "sales" e "offs" no lugar de liquidações e descontos. Não se toma mais um cafezinho, mas se faz um "coffee break". Pior ainda é quando alguém se vê obrigado a "ressetar" o seu computador, por conta de um "bug" no "software", e não consegue "forwardar" um "e-mail" urgente nem acessar o seu "personal banking".
Qualquer um que aprecie um bom autor de língua portuguesa tem ganas de deletar essas expressões do idioma. O pior caminho para fazê-lo é o projeto do deputado Aldo Rebelo (PC do B-SP), aprovado anteontem pela Comissão de Educação da Câmara, que poderá estabelecer multas para quem empregar "palavra ou expressão estrangeira" que tenha equivalente em língua portuguesa.
A proposta é digna de figurar numa comédia surrealista. Pelo artigo 3º, é obrigatório o uso da língua portuguesa por brasileiros, natos e naturalizados, e estrangeiros residentes no país há mais de um ano.
Para ser consequente com o projeto, far-se-ia necessária a criação de brigadas linguísticas, encarregadas de dar fiel cumprimento aos dispositivos legais. Os mui diligentes fiscais do Lácio, munidos de sólida formação filológica, resgatariam o idioma de Camões das trevas imperialistas que o ameaçam. À imortal ABL, agora dispondo de poder discricionário, caberia definir o "Volksgeist" e dar-lhe expressão vernacular.
O português já experimentou outras invasões, notadamente a dos galicismos, e sobreviveu. Na verdade, saiu enriquecido, como às vezes ocorre quando culturas se encontram. Aliás, se não houvesse essa dinâmica de influências, o português nem existiria. O idioma pátrio ainda seria o proto-indo-europeu.
Ainda não inventaram uma forma de fazer as pessoas terem bom gosto por força de lei. Diante do óbvio, faria melhor o Congresso se direcionasse seus esforços para fins mais úteis, como elevar o nível do ensino ministrado nas escolas. (Editorial do jornal Folha de S. Paulo, de 11 de agosto de 2000).
Texto 02-"Achei o editorial 'Língua presa' (Opinião, 11/8) um protesto da Folha que certamente cairá no ridículo quando a lei for aprovada. Agora o leitor será vingado. Contratem publicitários mais criativos, que dêem nomes que existam em nossos dicionários, e não nomes babacas que prestigiam a mediocridade de quem quer aparecer com aquilo que não é."
Franz Josef Hildinger (Praia Grande, SP) ( Jornal Folha de S. Paulo,17/08/2000, Painel do Leitor).
Texto 03-"A respeito do editorial 'Língua presa', gostaria de fazer algumas ponderações.
Primeiramente, o projeto não inova ao reafirmar ser obrigatório o uso da língua portuguesa em território nacional. A Constituição já estabelecera essa regra.
O que pretende o projeto é, a exemplo do que já fez a França, coibir o uso indiscriminado de estrangeirismos, jamais impedir que nossa língua, como organismo vivo que é, receba e elabore influências várias. O que se deve impedir, na realidade, é a absorção pura e simples de vocábulos estrangeiros, sem nenhum critério, conforme ocorre hoje em dia.
A propósito, a Folha deveria dar-se por suspeita relativamente ao assunto, já que se utiliza de uma gramática própria na qual o trema é proibido. Abordando o tema gramática, está falando de corda em casa de enforcado."
Alfredo Spínola de Mello Neto (São Paulo, SP) –(Jornal Folha de S. Paulo, 17/08/2000,Painel do Leitor)
Texto 04- Língua do povo
"Gostaria de mostrar o meu apoio ao editorial 'Língua presa' (Opinião, 11/8) em contraponto às observações dos leitores Franz J. Hildinger e Alfredo S. de Mello Neto no 'Painel do Leitor' (17/8).
Mais uma vez, no encantamento de terem concebido uma idéia, transformam-na em lei. Logo, dormiremos tranqüilos, pois a língua portuguesa estará protegida. Enquanto isso, no coração da pátria amada, os brasileiros comemoram: 'Vão na festa, hoje de noite'. E cantam: 'Segura o tchan, amarra o tchan'. E falam: 'Tô assistindo todos os capítulo da novela. Adoro ela, num perdo nem um dia'. E ignoram nossos poetas, nossos escritores, nossa boa música e nosso cinema: 'Estudar português, pra quê? Num leva a nada!'.
Por favor, esqueçam a lei. Ensinem a beleza da nossa língua. Eduquem o espírito do povo. Dêem-lhe motivos para se sentir digno da expressão e da criação com a rica língua que tem. Despertem a auto-estima e o valor da cultura nacional. Será mais do que suficiente para que termos estrangeiros tão procurados percam todo o seu (pseudo) papel de sofisticação. E, mesmo assim, se alguns 'apressadinhos' insistirem, o português os acolherá com sabedoria."
Lúcio Antunes (Belo Horizonte, MG) (Jornal Folha de S.Paulo,
Texto 05-Entrevista do lingüista americano Steven Fischer para a revista Veja, de5 de abr. de 2000.
Veja—O Brasil deveria seguir a França e tomar medidas para evitar o uso de palavras estrangeiras?
Fischer—Não. Idiomas não são pedras mas esponjas. Não se deve tentar impedir o enriquecimento do
idioma. É assim que as línguas sobrevivem, mudando continuamente. As transformações sofridas pelo português brasileiro são uma prova de sua força, não da sua fraqueza. No decorrer do tempo, as línguas que não inovaram foram substituídas por outras. Se você pegar as 10.000 palavras mais usadas em inglês, por exemplo, verá que 32% delas têm origem anglo-saxã e 45% francesa, sem falar no latim. Jazz e boogie-woogie, por exemplo, são termos de origem africana.
PROPOSTA :
Com base nos textos que você leu, escreva uma CARTA ARGUMENTATIVA em prosa, manifestando seu posicionamento sobre a necessidade ou não de proteção de lei contra os estrangeirismos na língua portuguesa do Brasil e aponte possíveis soluções para que os brasileiros possam falar e escrever melhor .
essa proposta 2 foi retirada de qual vestibular?
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